terça-feira, 15 de junho de 2021

NÃO VOU ESQUECER! 

1- O lugarzinho aconchegante onde eu dormia e o carinho da minha mãe que todas as noites ia me ver e arrumar o meu lençol me cobrindo, me protegendo.

2 - O cheiro da chuva na Barra-D'água (propriedade dos meus pais) onde vivi toda a minha infância.

3 - Os relâmpagos brilhando entre nuvens escuras carregadas de chuva, clareando tudo ao nosso redor.

4 - O plic... ploc... dos pingos de chuva caindo no telhado da nossa casa. Uma casa muito simples, pequena, sem forro o que fazia ficar mais forte o som produzido pelos pingos da chuva  batendo no telhado.

5 - A beleza da infância vivida com liberdade, de cortar  a brisa enquanto corria de pés descalços, os banhos de chuva com a roupa que estivesse usando, banhos de açude, de lagoa, de riacho. "O nosso Riacho" - quando tinha enchentes e ficava lambendo as ribanceiras de onde pulávamos mergulhando na correnteza. Sem medo, sem sustos envoltos numa alegria que nos fazia viver, crescer, ser feliz.

6 - Das brincadeiras de "esconde esconde" - "pulando a macaca" ou a "amarelinha" como é chamada em outras regiões, "da roça de melancias", (todos estendidas no chão, à noite na frente da nossa casa, (nas noites de lua ou à claridade das chamas de uma fogueira que meu pai costumava acender quando não tínhamos a lua clareando. Lembrando que não havia ali ainda as instalações de energia elétrica, como hoje) cada um era uma melancia. O ladrão chegava para roubá-las. Só queria as maduras e para saber se estava boa, dava um estalo com o indicador sacudido pelo polegar. Até que o dono da roça chegava, entrava em luta com o ladrão e salvava todas suas melancias levando-as para casa).

Tão bom!

7) - Nunca vou esquecer o dia que meu pai ia a cidade (não muito frequente),  e chegava trazendo pão, manzape e bombons! Ah que alegria! Que bom-bom saboroso! O bom-bom de hoje não tem mais o mesmo sabor! Não vou esquecer  o seu gesto amável trazendo da roça, na época das chuvas, os bolsos cheios de canapuns. (Frutinha exótica, frutinha do mato. porém medicinal, nutritiva, saborosa.) Enchia os bolsos e levava para a meninada em casa.

8) - Não vou esquecer a felicidade que ele sabia transmitir a todos nós. A bênção todas as manhãs e à noite quando íamos dormir. "Deus te abençoe meu filho (a)."

NOTA: Sou muito feliz até hoje por ter sido regada por esse carinho. Carinho de um pai que não tinha dinheiro, não era empresário, mas era o homem mais rico do mundo! Dono de um coração cheio de amor, carinho, respeito, homem exemplar. Homem empírico, homem espiritual.

9) - Não vou esquecer o tratamento peculiar e brilhante que ele , meu pai, criou para mim. "Bola de Ouro". 

10) - "Bola de ouro" - virou um poema bem mais tarde. Foi publicado no livro de poesias "Meu Florilégio" das autoras Osmarina e Vitória. (Filha a quem deu ele o nome carinhoso de "Bola de Ouro" e sua bisneta). O meu pai não estava mais conosco. Já tinha feito a sua mudança eterna para a casa do Pai.

BOLA DE OURO.

Osmarina Rosa Rodrigues.

"Bola de Ouro" maciço./Bola de alto valor,/Bola de "fogo", atiço;/A chama de puro amor;

"Bola de Ouro!" "Bola de Ouro!"/Por meu pai assim tratada/"Bola de Ouro'! "Bola de Ouro!"/Do pai querida, admirada!

"Bola de Ouro"! pelo caráter/Por Deus trabalhado/ "Bola de Ouro" atenção inter/Na família,  bem visado.

"Bola de Ouro" é mimo.../Pelo papai dado a mim./"Bola de Ouro" é fino/Carinho de pai... enfim!

(Tratamento que ganhei de meu pai, Francisco de Sousa Rosa).

Fazenda Barra-D'água, 1964.

10) - Nunca vou esquecer  a doçura paterna de amor, de cuidados para conosco .

Amém.




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