terça-feira, 21 de julho de 2015

Tia Mazinha e a Escola do Baixio.

Osmarina Rosa Rodrigues é a irmã caçula de meu pai. Alta, magra, elegante, bonita, dona de uma inteligência admirável e caligrafia impecável logo chamou a atenção dos missionários Norte Americanos que realizavam um trabalho de evangelização no município de Crateús. Por intermédio do casal de estrangeiros Frank e Irene Forbes, foi estudar em João Pessoa/PB, no Instituto Bíblico Betel que treinava moças para a Obra de evangelização mundial. Essa jovem apresentava também uma sonoridade refinada e foi estimulada a estudar teoria musical, tornando-se acordeonista e pianista de grande talento. De volta à terra natal, montou uma escola na zona rural de Crateús, onde havia uma carência severa de educadores. Essa escola acolheu alunos de várias localidades pois a professora dispunha de conhecimentos, capacidade didática, aliada a valores e princípios que sempre nortearam sua vida profissional.
No ano de 1964, a escola funcionou na Fazenda Estrela do Norte e no ano de 1965, no Baixio.
Fui alfabetizada por ela. Quando cheguei em casa depois do primeiro dia de aula, mamãe perguntou-me o que eu havia aprendido. Com empolgação respondi: "Passei a manhã fazendo cambitos cortados ao meio"., ou seja, o famoso "A". Essa resposta o que denunciava minha ignorância alfabética, foi motivo de brincadeira para minha família, e de vez em quando alguém me perguntava: "Você é a menina que faz cambitos cortados ao meio?" Eu tinha apenas cinco anos, todavia lembro nitidamente da festa para a escolha da rainha da escola. Foi inesquecível. A vencedora foi a aluna Valdívia, filha do Seu João Nenen e irmã da tia "Nega." O vestido dela era branco com lantejoulas prateadas. Simplesmente lindo!
Lembro também  vagamente de uma dramatização organizada pela tia Mazinha para o encerramento do ano letivo. Em um dos quadros, numa das falas, a filha criticava a mãe que cuspia no chão. Esta retruca. "E devo cuspir para cima?" Foi um sucesso e marcou época.
Tia Mazinha também montou uma escola na cidade de Crateús. Estudávamos, no salão da Igreja  Cristã Evangélica. Na Escola Dominical era mais uma vez a professora das crianças. Dava aulas bíblicas utilizando um flanelógrafo fantástico, que atraia a nossa atenção de forma mágica. Estudamos a vida de Moisés, Elias, e outros personagens da Bíblia Sagrada. Mais tarde, Osmarina morou em Fortaleza e em outras cidades do interior cearense. Graduou-se em Pedagogia, área que abraçou com paixão desde a mocidade.
Na terceira idade desperta a escritora e publica seus primeiros livros.
Essa professora, missionária, acordeonista, pianista, foi sem dúvida a pessoa que teve maior influência na formação intelectual e moral de todos os sobrinhos e estudantes de nossa região, naquela época.
A escola do Baixio, funcionou  na casa grande dos meus avós paternos. Em frente à casa, havia um terreno imenso onde o mata-pasto crescia bem alto, e as borboletas eram bem-vindas.
Durante o recreio, íamos pegá-las para minha tia, que as empalhava e fazia  quadros belíssimos. Em troca recebíamos cartões de natal típicos do inverno do hemisfério norte, doados pelos missionários norte americanos.
íamos para a escola a pé, por um caminho que passava por dentro dos roçados, do riacho e de um grande atoleiro que era a maior atração da viagem.
Passávamos muito tempo nos divertindo com a lama que ficava o tempo todo borbulhando. Uma vez salvamos um jumento que estava  atolado naquele lamaçal. Encontrávamos no local  pedacinhos de lâminas brilhantes, e logo alguém espalhou a notícia de que havia ali uma mina, o que nos tornaria milionários. Era evidentemente uma lenda rural.
Neste caminho havia também muitas mutucas que nos atacavam sem piedade. Por isso minha mãe comprou umas calças compridas  - estilo "faroeste", para me proteger do ferrão das moscas gigantes. Na parte da frente dessas calças, havia dois  bolsos grandes que eu enchia de dinheiro trocado, que encontrava fartamente em uma gaveta do guarda-roupa de minha mãe. Com ele comprava muitos bombons na bodega de meu tio gentil - que funcionava no quarto da frente da casa de minha avó, Mãe Dadade - hábito
que me custou alguns dentes.
É verdade que a primeira professora a gente nunca esquece, e a escola do Baixio será lembrada como o primeiro choque no principal indicador de atraso de um país: O analfabetismo.
Osmarina Rosa Rodrigues é casada com o Pr. Antônio Rodrigues com quem teve  três filhos: Jidlafe, Jether-Jeiel e Alton Neto.

Lindalva/2014.

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